sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O assassinato de Júlio César

 

Ele foi o homem mais poderoso do mundo romano e adotou medidas populistas que desagradaram a aristocracia. Para proteger a república, os senadores o mataram, sem saber que aniquilariam sua classe política

por Reinaldo José Lopes
Três escravos se esgueiraram para dentro do Senado vazio e correram em direção ao corpo ensanguentado, caído perto da estátua de Pompeu. Mais tarde, os ferimentos seriam contados: 23 golpes de adaga. Os assassinos de Caio Júlio César não estavam mais ali. Planejaram transformar a morte num grande ato de propaganda política, mas não contavam com o medo e a revolta do povo comum de Roma, quase todo formado por adeptos do ditador. Os responsáveis pelo atentado, portanto, tiveram de se esconder, entrincheirados na colina do Capitólio. Matar César tinha sido ridiculamente fácil; assassinar o que ele significava para Roma era bem mais complicado. A morte do homem mais poderoso do Império Romano teve pouco a ver com as cenas criadas por poetas como William Shakespeare, mas tem todos os elementos de uma grande tragédia, com cenas de intriga, maquiavelismo, traição e, a julgar pelo que dizem os escritores da Antiguidade, até avisos proféticos que foram ignorados. O famigerado Bruto pode não ter sido filho de César, como reza a lenda, mas ele e seus comparsas tinham em comum a decisão de eliminar o homem que tinha sido seu benfeitor. E os efeitos colaterais do plano foram ainda piores: anos de guerra civil, um império que quase se esfacelou e o fim das ambições políticas para a classe representada pelos assassinos. Se a personalidade e os instintos políticos de César fossem ligeiramente diferentes, ele jamais teria tombado no Senado. Afinal, a tradição das longas guerras civis que tinham assolado Roma ao longo dos séculos 2 a.C. e 1 a.C. era clara: se quiser governar tranquilo, não deixe seus inimigos vivos. Essa foi a regra durante as décadas de conflito entre Optimates, a facção que defendia a supremacia dos aristocratas romanos, e Populares, os quais, como o nome diz, queriam fazer concessões ao povo romano (embora seus líderes fossem homens da nobreza). César era um expoente dos Populares, o que levou o aristocrático Senado a tentar eliminá-lo logo depois que ele retornou da Gália (atual França), depois de oito anos de batalhas, como general vitorioso no ano 49 a.C. Não deu muito certo, para dizer o mínimo. As forças senatoriais, lideradas por Pompeu Magno, ex-aliado de César, foram esmagadas em batalhas na Espanha e na Grécia. Com as legiões de todo o Império sob seu comando, César podia fazer o que quisesse, mas preferiu deixar de lado as guerras civis e perdoar a todos que se rendessem sem luta. "A chamada clementia [ancestral de ‘clemência’ em português] se tornou a marca política de César, e uma grande arma de propaganda", afirma o historiador Pedro Paulo Funari, da Unicamp. Em muitos casos, a clementia de César envolvia até a promoção de antigos inimigos. Dois dos mais mimados pelo novo senhor de Roma foram os líderes da conspiração que acabaria por matá-lo: Caio Cássio Longino e Marcos Júnio Bruto, sendo que ambos haviam recebido cargos e honrarias.

Oficialmente, Roma era uma república, mas na prática o poder absoluto estava nas mãos de César. Em épocas de crise, Roma tinha sido governada pelos chamados ditadores, que ganhavam poderes amplos durante um período de no máximo seis meses; em 45 a.C., o Senado deu ao general o título de senador vitalício, um ano depois de conferir o cargo a ele por dez anos - dois fenômenos sem precedentes na história republicana. Com essas manobras, sem falar de outras honras dadas a ele pelo Senado, como o título de Pater Patriae (Pai da Pátria), parecia que César tinha amansado de vez os Optimates e trazido os antigos inimigos para o seu lado. Mas a situação real era bem mais complicada.

Até tu, Brutus?
Resta ainda um enigma, que deixava até alguns historiadores antigos céticos: a suposta frase "Tu também, meu filho?", dita quando César viu Bruto entre os assassinos. Primeiro, ela teria sido pronunciada em grego, língua na qual ela é ambígua. Kai su, têknon também pode querer dizer "você também, menino/moleque". "Minha impressão é que, ao colocar a frase em grego, os escritores antigos querem dar a impressão de que César está citando alguma tragédia. Ou seja, estão colocando palavras na boca dele, num contexto literário. Ia ser muito difícil ouvi-lo no meio daquela confusão toda", afirma Isabella, que se diz cética a respeito de todos os detalhes do episódio. Reza a lenda que, depois da morte do ditador, Bruto tentou fazer um discurso para os Liberatores (como os assassinos se denominavam), mas eles e os demais senadores acabaram fugindo da cena do crime. Com a fria reação popular ao fim de César, os Liberatores se viram num dilema e acabaram se sentando à mesa de negociação com Antônio. Afinal, se César tinha mesmo sido um tirano, nenhuma de suas decisões era válida - inclusive as nomeações de vários dos assassinos para cargos importantes e rentáveis. As conversas acabaram terminando no que parecia uma monumental pizza: César não seria oficialmente declarado tirano, e portanto poderia receber funerais dignos, e os Liberatores não seriam declarados assassinos, mantendo assim o cargo e a posição social. Plano digno de outro Senado que todos conhecemos, sem dúvida, se não fosse pela malandragem e pelo poder oratório de Antônio. Nos funerais, ele exibiu uma imagem de cera, em que se viam os ferimentos sofridos por César, e fez um elogio fúnebre com tamanha paixão que o povo de Roma, revoltado, jurou vingança contra os Liberatores. Mesmo anistiados, Cássio e Bruto decidiram fugir para as províncias romanas do Oriente. Lá, a dupla de conspiradores reuniu soldados para tentar conquistar todo o Império Romano, mas era mais fácil matar César que imitá-lo. Uma aliança entre Marco Antônio, Marco Emílio Lépido (outro general de César) e o herdeiro e sobrinho-neto do ditador, Otaviano, esmagou as forças de Bruto e Cássio em Filipos, na Macedônia. A dupla cometeu suicídio (ou, para ser mais exato, Bruto se matou e Cássio mandou que um de seus ex-escravos o matasse). Ainda não era o fim das grandes guerras civis romanas - nas décadas seguintes, Otaviano derrotaria Antônio e viraria Augusto, o primeiro imperador. Mas, sem dúvida alguma, era o fim das chances de poder para sujeitos como Cássio, Bruto, Casca e os demais senadores, que se diziam Liberatores. 






Os suspeitos
  Caio Cássio Longino
General com experiência nas guerras romanas no Oriente, estudou filosofia na Grécia e se aliou a Pompeu, líder da facção aristocrática inimiga de César, quando estourou o conflito civil em Roma. Quando Pompeu foi derrotado, Cássio recebeu o perdão oficial de César e o cargo de pretor, mas não ficou nem um pouco satisfeito.

Marcos Júnio Bruto
Descendia de um ancestral famoso e semilendário que, segundo a tradição, fora responsável por expulsar Tarquínio,o último rei de Roma. Sua mãe, Servília, era amante de César. Como Cássio, seu cunhado, ele acabou se aliando a Pompeu durante a guerra civil, sendo perdoado assim que se rendeu.

Décimo Júnio Bruto Albino
Parente distante do outro Bruto e do próprio César, era um almirante de mão cheia, que ajudou o ditador a vencer batalhas navais durante a conquista da Gália e na guerra civil. Com reputação acima de qualquer suspeita, os conspiradores trataram de recrutá-lo, junto com outros membros do círculo de César que andavam descontentes.

Públio Servílio Casca
Casca e seu irmão, Caio, eram senadores membros de uma família leal a César, mas tudo indica que a falta de perspectivas políticas para o Senado com o poder cada vez mais absoluto do ditador os levou a se juntar aos conspiradores. Públio Casca, segundo os autores antigos, foi o primeiro senador a ferir César com sua adaga.

Marco Túlio Cícero
Excelente orador, escritor e filósofo, foi o grande articulador do partido aristocrático, os Optimates, pouco antes da guerra civil e durante o conflito. Aceitou o domínio de César e fez os senadores jurarem defender a vida do ditador. Mas não deixava de queimar o filme de César. Não participou diretamente do atentado.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Roma: O alto império

 
INTRODUÇÃO

A ascensão de Otávio ao poder foi resultado da extensa guerra civil do século I a.C. e deu início a um regime monárquico, autocrático, baseado na força do exército, dando um novo caráter ao Estado escravista romano, baseado na noção oriental de um único Estado mundial, governado por um só homem.
Durante cerca de 250 anos, período conhecido como ALTO IMPÉRIO, esse Estado fortaleceu-se e consolidou-se. Apesar de manter as aparências republicanas, o poder imperial se sobrepôs ao senado e às demais instituições políticas da época, esvaziando as Assembléias de suas funções tradicionais.

O IMPÉRIO DE OTÁVIO


Caio Otávio foi o primeiro imperador romano e durante seu governo delinearam-se a nova organização social e política do Império. Para efeito político, a sociedade foi redividida em "ordem senatorial" e "ordem eqüestre", a partir de um critério censitário.
A nova ordem política baseava-se no apoio da ordem eqüestre, representante principalmente dos interesses mercantis, e que tornaram-se os dirigentes do Estado, ocupando os principais cargos políticos; na conciliação com a ordem senatorial, dos antigos patrícios, proprietários rurais, que preservaram seus privilégios sociais, mas perderam o poder político efetivo, uma vez que o senado tornou-se submisso ao poder imperial; e ainda no apoio de grande parcela da plebe, a partir da intensificação da política do "pão e circo".
Durante esse período o equilibrio entre o poder e as camadas sociais foi mantido, no entanto, as disputas diretas pelo poder foram intensas. As disputas internas ao exército, as conspirações palacianas e as intervenções da Guarda Pretoriana foram responsáveis pelo final de vários governos, inclusive com o assassinato de alguns imperadores; porém a estrutura socioeconômica não foi alterada, assim como também foi preservada a estrutura política imperial, centralizada e despótica.


"Muitos anfiteatros foram construídos ou adaptados para a luta de gladiadores, parte do "pão e circo".


O EXÉRCITO

O exército foi uma das mais importantes instituições do Império Romano. Não somente como sustentáculo do poder do imperador, mas principalmente para a manutenção de um equilíbrio social e econômico que possibilitaram a continuidade do poder autocrático.


"As estradas serviam para o rápido deslocamento das legiões"


O exército foi peça fundamental para as conquistas romanas e principalmente para a preservação de suas províncias, responsáveis pela riqueza de Roma. Dessa maneira beneficiou tanto patrícios como mercadores, possibilitando ainda o controle da plebe e dos escravos.
Durante o governo de Otávio Augusto foi imposta a "Pax Romana". A pacificação das províncias significou a eliminação da maior parte dos focos de resistência e das rebeliões através da força, possibilitando o aumento da arrecadação tributária, fortalecendo as finanças públicas, fundamental para a manutenção de certos privilégios dos senadores patrícios, uma vez que a produção agrícola provincial passou a concorrer com a romana. O comércio tornou-se mais dinâmico, mantendo o enriquecimento dos mercadores, principal base de apoio social do poder imperial.
O exército destacou-se ainda no combate às rebeliões de escravos e na manutenção da ordem na capital do Império.Contraditoriamente, esse papel conferido ao exército, será responsável pela maior crise vivida pela instituição: a anarquia militar do século III.
Após a morte de Augusto, sucederam-se imperadores pertencentes a sua família, a partir do critério de adoção, até Nero.

A DINASTIA JULIO-CLAUDIANA

TIBÉRIO ( 14-37 d.C) Filho adotivo de Augusto, foi considerado um bom administrador, consolidou a centralização política, retirando da Assembléia Popular o direito de nomear os magistrados. Desencadeou violenta perseguição política à adversários e nas províncias.

CALÍGULA ( 37-41 d.C.) Tentou implantar uma monarquia de tipo oriental, exigindo honras divinas. Seu governo é normalmente destacado pelo desequilíbrio mental caracterizando sua conduta pessoal, particularmente no que toca as orgias que promoveu. Foi assassinado por elementos da Guarda Pretoriana.

CLAUDIO (41-54 d.C.) Manteve-se no poder com o apoio da Guarda Pretoriana, que aumentou sua influência política. Executou diversas obras públicas e ampliou as fronteiras do império com a conquista da Bretanha. Morreu envenenado.

NERO (54-68 d.C.) Foi responsável por fortalecer as fronteiras ao norte do império. Durante seu governo os cristãos sofreram a primeira grande perseguição, acusados pelo incêndio de Roma. Também na Judéia houve grande perseguição à população local, massacrada pelos generais Vespasiano e Tito.


Fonte: história net

A crise da República Romana

A crise da República Romana teve início quando o senado romano passou a ter seu poder desafiado pelo poderio militar de alguns generais.
A partir de 238 a.C., Roma passou a ter províncias, sendo a primeira delas Córsega e Sardenha, seguida pela Sicília, em 241 a.C. Além disso, o aumento do território e da duração temporal das guerras de conquista obrigou o senado romano a criar o pro-rogatio, que era a prorrogação do tempo do mandato do pró-cônsul ou do pró-pretor provincial, que era o funcionário da administração central incumbido de governar a nova província.
Com isso, a influência e o poder se concentraram nas mãos de alguns generais, o que lhes permitiu desafiar a tradicional classe senatorial.
Um dos melhores exemplos deste tipo de processo foi o general Caio Mário, que mesmo sendo rejeitado pelo senado para comandar a expedição ao norte da África com o intuito de solucionar a guerra contra Jugurta, foi enviado com o aval que a decisão popular lhe deu. Isso ilustra um exemplo de como os generais poderiam aliciar militantes a seu favor, mesmo quando Senado decide contra si.
Pode-se afirmar que um dos momentos mais críticos da República Romana até o primeiro triunvirato teria sido a ditadura de Lúcio Cornélio Sula, que chegou a marchar com seu exército sobre Roma. Desde o fim das Guerras Púnicas, o cargo de ditador romano havia sido abolido por ser considerado perigoso conceder a um único homem tanto poder. Porém, o cargo foi reintroduzido em 81 a.C. por Sula, no fim da guerra civil com a facção de Caio Mário.
Neste período turbulento floresceu um dos mais importantes filósofos e políticos de toda a História de Roma: Marco Túlio Cícero. Cícero foi um dos grandes defensores da República e escreveu tanto tratados políticos quanto filosóficos.
Além da reimplantação da ditadura em Roma, houve outros motivos para o colapso da República Romana, entre eles o fracasso dos irmãos Graco ao tentar realizar uma reforma agrária; guerras civis e revoltas populares; movimentos separatistas e insurreições de escravos. Podemos salientar também, que a estrutura política da República era inadequada ao Império.